O mundo parece estar cheio de homens que não
querem namorar. Eles me contam isso, as mulheres que saem com eles dizem isso.
Eu não entendo. Que o sujeito hesite em morar junto, casar, ter filhos, comprar
apartamento pelo SFH – tudo isso me parece compreensível. Esses são grandes
passos e nem todos estão prontos para o compromisso. Mas namorar, tanto quanto
eu sei, não dói. Andar de mãos dadas, viajar no feriado, ir ao cinema no sábado
à tarde são atos no campo do prazer, não do dever. Não deveriam constituir um
problema. No entanto...
Pergunte às mulheres e ouça o que elas têm a dizer sobre o assunto. Essencialmente, vão contar que os caras só querem o bilhete de ida. Estão a fim de uma viagem única. Se gostar do sexo, do agarro, do beijo, o sujeito volta; ou não. Tudo é negociado um dia de cada vez. Não há laços, nem fins de semana assegurados, muito menos exclusividade. Esta situação, que antes seria considerada transitória, agora pode durar indefinidamente. Do ponto de vista de algumas mulheres com quem eu tenho conversado, os relacionamentos ficaram parecidos com empregos precários: não há contrato, não há garantias e aviso prévio não existe. Pode acabar a qualquer instante, já que oficialmente nunca começou. É o amor terceirizado.
Pergunte às mulheres e ouça o que elas têm a dizer sobre o assunto. Essencialmente, vão contar que os caras só querem o bilhete de ida. Estão a fim de uma viagem única. Se gostar do sexo, do agarro, do beijo, o sujeito volta; ou não. Tudo é negociado um dia de cada vez. Não há laços, nem fins de semana assegurados, muito menos exclusividade. Esta situação, que antes seria considerada transitória, agora pode durar indefinidamente. Do ponto de vista de algumas mulheres com quem eu tenho conversado, os relacionamentos ficaram parecidos com empregos precários: não há contrato, não há garantias e aviso prévio não existe. Pode acabar a qualquer instante, já que oficialmente nunca começou. É o amor terceirizado.
Da parte dos caras, a queixa é outra. “Eu não me
envolvo”, eles reclamam. Sai moça, entra moça, e fica o mesmo vazio. A mulher
que parecia espetacular perde o brilho em poucos dias. A empolgação inicial não
se sustenta. Tudo se resume a um desejo passageiro, que pula de uma dona para
outra. Como nada ganha relevo, tudo é igual a tudo. Então se trata, simplesmente,
de administrar uma agenda com vários nomes. Isso inclui Facebook, celular e
muitas horas vazias e solidão. Um dia a Fulana, outro dia a Sicrana, amanhã,
quem sabe, alguém capaz de fazer diferença. Em cada uma delas, novidade e
prazer. Nos intervalos entre elas, ansiedade e tédio. Entre uma e outra,
angústia.
Como eu já disse, não entendo muito bem essa
dificuldade. Acho bom demais namorar. Melhor coisa do mundo, na verdade. Os
primeiros meses de namoro são melhores que banho de cachoeira, melhor que pegar
jacaré no fim de uma tarde de verão, melhor que ficar bebum em companhia de
amigos queridos. No namoro a gente descobre (ou redescobre) que pode ser feliz,
que o nosso romantismo não morreu, que existe dentro de nós um sujeito capaz de
gestos arrebatados e pensamentos delicados, um cara que se lembra de comprar um
presente inesperado e de mandar um poema no meio da tarde, pelo celular. Quem
não gosta de sentir-se assim levanta a mão - e corre assim mesmo, de mão
erguida, para o analista mais próximo!
Então, não acho que os homens tenham problemas
com isso. Seria desumano. Minha impressão é que há dois tipos de situações, a
simples e a complexa. A simples é realmente simples: ele não quer namorar você,
mas não significa que não queira namorar em geral. As mulheres às vezes
confundem. Criam fantasias sobre as dificuldades afetivas de um cara que apenas
não está a fim delas, mas cai de quatro dias depois pela próxima mulher que
entra na vida dele. Isso acontece o tempo todo. É do jogo. Levanta e vai à
luta, menina.
Mas há outro tipo homem para quem namorar é
realmente um problema. Entre ele e o oásis de ternura e erotismo chamado namoro
caminha a besta vigilante da ansiedade. A fera peluda de olhos flamejantes
impede o sujeito de se concentrar. Faz com que ele se disperse numa multidão de
desejos conflitantes. Diante de tantas garotas, diante de tamanha possibilidade
de prazer, o cara não consegue fixar sua atenção em ninguém. Quer tudo, deseja
todas, e, por mais que obtenha, continua insatisfeito - porque há sempre mais
ao redor. Sempre existe uma mulher mais bonita, mais sexy, mais interessante na
próxima esquina. Se a bússola do coração está quebrada, seu dono nunca vai
achar o Norte. É uma corrida sem linha de chegada. Mesmo sozinho e miserável, o
sujeito seguirá esperando a resposta definitiva do universo às suas
inatingíveis aspirações. Pode chamar isso de burrice, mas eu acho que é mesmo
ansiedade e desassossego. Uma forma destrutiva de romantismo.
As mulheres se julgam as criaturas mais
românticas do planeta, mas talvez não sejam. Olhe em volta: diante de um cara
apaixonado, bacana, determinado a ficar com elas, boa parte das mulheres
sossega. O cara pode não ser perfeito, mas se torna “o cara”. Há nisso um
pragmatismo que muitos homens perderam. Enquanto as mulheres escolhem de
maneira apaixonada, mas com os pés no chão, eles parecem viver nas nuvens,
sonhando com a mulher perfeita. Como ela não aparece, o cara vai testando uma
atrás da outra, como se levasse um sapatinho de cristal no bolso. O padrão de
exigência é elevado, opressivo talvez. Muitas vezes baseado apenas em
aparência. Tem homem adulto se apaixonando pela mulher da capa de revista, por
atriz de filme pornô, por modelo americana. Homens de 30 anos, eu digo. Homens
de 40. Não há limite de idade para o desvario. Uma legião de barbados de todas
as classes e graus de instrução vive à mercê de fantasias que bloqueiam as
construções afetivas verdadeira. Como o sujeito vai namorar se a mulher da vida
dele pode aparecer do nada na semana que vem? Se você está apaixonada por um
cara assim, talvez seja melhor dar um tempo e esperar ele pousar na Terra. Pode
demorar uns aninhos.
O Alain de Botton, que virou meu guru nesses assuntos, lembra que ali pelos 40 anos o sujeito já começa a perceber que vai morrer, e isso acrescenta a tudo que ele faz uma tinta de urgência. Sobretudo no sexo. Antes de empacotar, antes de ficar broxa e caído, é preciso aproveitar a juventude – dos outros. Esse sentimento é forte. Se o jovem quer todas as mulheres do mundo porque está nadando em desejo e inexperiência, o mais velho sente o mesmo porque acha que está saindo de cena e tem fome de vida. O período de maturidade masculino, essa quimera científica, fica cada vez mais curto, espremido entre duas áreas de insensatez em expansão.
O Alain de Botton, que virou meu guru nesses assuntos, lembra que ali pelos 40 anos o sujeito já começa a perceber que vai morrer, e isso acrescenta a tudo que ele faz uma tinta de urgência. Sobretudo no sexo. Antes de empacotar, antes de ficar broxa e caído, é preciso aproveitar a juventude – dos outros. Esse sentimento é forte. Se o jovem quer todas as mulheres do mundo porque está nadando em desejo e inexperiência, o mais velho sente o mesmo porque acha que está saindo de cena e tem fome de vida. O período de maturidade masculino, essa quimera científica, fica cada vez mais curto, espremido entre duas áreas de insensatez em expansão.
Claro, não há dois homens iguais. O roteiro que
eu descrevo não vale para todos. Talvez valha só para uma minoria ruidosa. A
maioria – quem tem essa estatística? – deve estar feliz agora mesmo,
encomendando na internet o presente de Natal para a namorada. Ou planejando uma
viagem romântica de Ano Novo com ela. Não sei. Olho pro mar e vejo apenas quem
está se afogando – e são muitos. Se eu pudesse dizer alguma coisa para eles,
diria “pare, respire, comece alguma coisa”. Escolha alguém que toque os seus
sentimentos e se deixe ficar ao lado dela. As mulheres, quando querem, quando
nós deixamos, têm um jeito gostoso de nos fazer felizes. Pode não ser para
sempre, mas quem se importa? A vida é um dia de cada vez – e eles são melhores
quando a gente está namorando.
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)