quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O que você deseja?Uma pergunta difícil antes que 2013 comece


IVAN MARTINS
 É editor-executivo de ÉPOCA (Foto: ÉPOCA)

Adoro finais de ano. Presentes, planos, festas, tudo me cai bem. Mesmo a correria e as aglomerações que incomodam tanta gente, a mim agradam. Fico com a sensação de estar vivendo um período extraordinário. É como se o ano todo se condensasse em meia dúzia de dias, carregados de urgência e de expectativa. Uma parte de mim volta a viver sentimentos de criança. Talvez seja isso, na verdade, que explique o meu contentamento: ele deve ser uma manifestação secreta de nostalgia.
Ao lado desse sentimento familiar, tem aparecido, nos últimos finais de ano, uma sensação inteiramente nova – a de que é preciso fazer planos. Com a corrida final para o Ano Novo, começo a ser invadido pelo sentimento de que é imperativo, de alguma forma, planejar o ano seguinte, mesmo que seja em linhas gerais. Uma pergunta complexa – o que eu quero para mim? – se esgueira sob a porta nesses dias e se instala no meio da minha sala. Exige que eu lide com ela.
Até recentemente eu não sentia isso. Sempre tive a sensação de que a vida era um grande improviso e que planejar era uma forma de trapaça. Não gostava, e ainda tendo a não gostar, de artificialidades, e o planejamento me parecia uma delas. Meu lema no amor e na vida era que as coisas tinham de acontecer com naturalidade. Olhava com uma ponta de desdém para as pessoas minuciosas que se obstinavam em arquitetar a conquista de coisas, posições e pessoas. Sentia que elas não tinham entendido a essência espontânea da vida, que eu já captara.
Como eu disse, essa sensação mudou.

Embora eu continue acreditando que as coisas que nos dizem respeito acontecem com naturalidade – não por uma questão de destino, mas sim por afinidade e talento – fui obrigado a admitir que a vida às vezes requer um empurrãozinho. Mesmo as coisas que nos cabem requerem esforço e planejamento.
Antes de fazer planos, porém, é preciso responder àquela pergunta difícil: o que eu desejo para mim? Quando a gente tem 20 anos não sente que precisa respondê-la. Há tanta coisa acontecendo, são tantas as novidades que escolher parece quase uma estupidez. A gente quer tudo e pronto. Aos 40 anos não é mais assim. Aos 50, escolher torna-se inevitável, mas, ainda então, muitos não conseguiram responder à pergunta essencial: o que eu desejo para mim?
Outro dia eu fui ver um show de fado, o primeiro da minha vida. A cantora era uma jovem portuguesa chamada Carminho. Ela era linda, cantava com tamanha intensidade, eu me emocionei como não acontecia há muito tempo. Fiquei lá, sentado no escuro, cheio de sentimentos exaltados, enquanto ela falava de saudades, lágrimas, amor. Saí do espetáculo amolecido e feliz. Por alguns momentos, enquanto eu guiava de volta para casa, tive a sensação de que quase tudo estava em seu lugar – e que eu sabia, perfeitamente, o que era necessário mudar, e como fazê-lo.

Com essa historieta pessoal, tento dizer que as emoções fazem parte do nosso processo de escolha. Descobrir o que fazer da vida, ou o que se deseja dela, não é o mesmo que resolver um problema matemático. Precisamos da luz dos nossos sentimentos para nos guiar. Vendo e ouvindo a cantora de fado eu consegui, por momentos fugazes, mas essenciais, refazer a ligação com o adolescente que eu era. Ele decidiu quem o homem adulto seria. Essa trilha de emoção que voltou para trás é a mesma que levará para frente. No meu caso, uma trilha essencial de identidade que tem a ver com personalidade, família, geração, classe, bairro... Para descobrir o que eu desejo, foi preciso me lembrar do que eu queria quando tudo começou. A cantora de fado me pôs no caminho.

Quando 2013 começar, portanto, pretendo estar pronto, ou quase. Com alguns planos, pelo menos. Sabendo mais ou menos em que direção eu quero ir. Feliz pela possibilidade de começar de novo. Contente com o fato de que o caminho à frente responde aos anseios do garoto que eu já fui. Disposto a fazer força e empurrar para que as coisas aconteçam. Sabendo que não é mais possível fazer tudo. Tendo a certeza, sobretudo, de que não adianta ficar parado, esperando. A vida não nos espera.
(Queridos leitores, na próxima quarta-feira eu estarei de folga e não haverá coluna. Volto no dia 9 de janeiro. Feliz Ano Novo para todos!)

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Livro conta história de Heldy, surdocega que se comunica pelo tato

MARIANA VERSOLATODE SÃO PAULO

Quando tinha pouco mais de um ano de idade, tudo que Heldyeine sabia fazer era chorar e se arrastar de costas no chão, o que lhe deixava com falhas no couro cabeludo. Surdocega congênita por causa da rubéola contraída pela mãe na gravidez, a criança parecia isolada.
Pouco a pouco, Heldy foi aprendendo a pegar objetos, andar, alimentar-se, tomar banho, reconhecer pessoas e emoções, expressar desejos e interagir com o mundo, tudo por meio do toque.
Hoje, aos 21, Heldyeine Soares se comunica por Libras (Língua Brasileira de Sinais) tátil --os sinais são feitos nas mãos, que ficam em forma de concha, para que ela os sinta e os interprete.
Seu mundo, feito de gestos que identificavam coisas e pessoas, foi sendo traduzido para a Libras tátil, o que ampliou suas possibilidades de interação e abstração.



A história da menina acaba de ser publicada no livro "Heldy Meu Nome -- Rompendo as barreiras da surdocegueira", escrito pela pedagoga Ana Maria de Barros Silva, impressionada com o desempenho de Heldyeine.
"Essa é uma história de sucesso que não poderia ficar apagada. Surdocegos congênitos como ela tendem a ficar isolados, não têm esse desenvolvimento", diz a autora, que trabalha há 40 anos com a educação de surdocegos.
Grande parte desse sucesso é mérito da professora aposentada Marly Cavalcanti Soares, do Instituto dos Cegos de Fortaleza, que encarou o desafio de ensinar a menina, apesar de ter poucos recursos e de seu desconhecimento sobre a surdocegueira.
O livro só pôde ser escrito graças aos seus detalhados relatórios do progresso de Heldy. Anotava cada conquista, tirava fotos e fazia vídeos, batizados de "Renascer".
Os textos dão uma ideia de como o progresso foi alcançado e comemorado e mostram como Heldy aprendia rápido e dava sinais de que queria mais. Depois de aprender a andar, já recusava a ajuda da professora para subir escadas, como se pedisse mais autonomia.
Ela logo conseguiu identificar as pessoas --reconhecia a professora pelas blusas com botões e tinha um gesto para cada membro da família.
PARCERIA
Junto com Marly, a mãe e as irmãs de Heldy lutaram para que a menina se desenvolvesse dessa forma.

De origem simples, a família de Maracanaú (a 15 km de Fortaleza, CE) levava quase duas horas para chegar ao Instituto dos Cegos de Fortaleza de ônibus.
A mãe, Jane, abandonada pelo ex-marido, cuidava sozinha de Heldy e das duas filhas mais velhas. Apesar das dificuldades, insistia na atenção especial à caçula.
"A Heldy é quem ela é hoje graças a Deus, à minha mãe e à tia Marly, que provou que, por amor, é possível tornar uma pessoa capaz como ela fez", conta Heldijane Cidrao, 26, irmã de Heldy.
Heldijane cuida da irmã desde os cinco anos --era chamada pela professora de "pequena grande mãe". Envolveu-se tanto que se casou com o professor de Libras de Heldy, que é surdo, e se tornou intérprete de surdos e surdocegos.
"Esse livro me emociona porque ler é como viver tudo de novo. Quando eu tinha seis anos, a tia Marly me colocou no colo e me disse que, quando eu tivesse sede, Heldy também teria e que eu deveria dar água a ela. Quando estivesse com fome, deveria dar algo de comer a Heldy. Hoje tenho uma filha de seis anos e me imagino fazendo tudo que fiz na idade dela."
Agora, Heldy tem bastante autonomia --a família só não deixa que saia na rua sozinha ou cozinhe. Frequenta o Instituto de Surdos de Fortaleza para aprimorar seu conhecimento de Libras e faz bijuterias no tempo livre.
Algumas das anotações da professora Marly que estão no livro são dirigidas diretamente a Heldy. Seu sonho era que um dia a menina pudesse ler sua própria história.
Os primeiros capítulos foram enviados à jovem em braile --ela lê, mas não fluentemente --e o livro todo deve ser lançado nesse formato.

HELDY MEU NOME
EDITORA
United Press
PREÇO R$ 22,90 (219 páginas)

Festas com cartomante e DJ são opções para a virada



Nem Copacabana, nem Paulista. Você que decidiu --ou mesmo se decidiram por você-- ficar em São Paulo na virada de ano ainda pode encontrar opções de festas para animar seu Réveillon.
Para evitar os 2 milhões estimados na virada da Paulista, algumas alternativas mais finas, e consequentemente mais caras, oferecem ceia completa, música ao vivo, apresentação de escola de samba, espumante e bebida liberada a noite inteira.
O Hilton, por exemplo, promete uma festa de gala para 260 pessoas. Tales Matzenbacher, gerente de alimentos e bebidas, garante que a festa do hotel é a melhor de São Paulo. "O serviço cinco estrelas passa por todos os elementos, do atendimento à gastronomia requintada. E, [além disso] é claro, tem a animada festa com banda ao vivo", diz Matzenbacher.
Os clubes são opções para poucos --Pinheiros e Paineiras têm eventos só para sócios e seus convidados; o Hebraica fará uma festa aberta, mas os ingressos já estão esgotados.
Baladas tradicionais como Yatch, Estúdio Emme, Vegas e Clash não oferecerão festa na virada do ano.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

É Natal: a graça de um belo vexame em família


E de repente, na fila da farofa, aquela priminha que você não dava nada se revela a gostosa-mor do universo.
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Minha solidariedade aos parentes desconhecidos que logo mais estarão mais perdidos na ceia do que vira-lata em caminhão de mudança.
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Tudo muda na família. Menos as ovelhas negras. O espírito natalino é burro. São as mesmas eleitas a vida inteira.
*
Toda ceia carece de pelo menos um velho comunista para chocar as criancinhas mesmo no tempo em que Papai Noel não passa de um aplicativo de quinta.
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A cara de espanto com o novo gay recém-revelado. E para cada um assumido, dois no armário ad eternum.
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A hora de falar umas verdades. Alguém bate o talher na garrafa, como no “Festa de Família” (no cartaz acima), filme do Dogma 95. Suspense.
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Na falta de assunto, tempo, tempo, tempo. O calor carioca, a estiagem cearense, o mormaço do Recife, as quatro estações diárias de San Pablo etc.
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O cunhado bêbado, em plena Missa do Galo, ainda com o interminável grito de guerra: Vai, Curíntia!
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O tio bêbado, tipo papudinho mesmo, que dureza acompanhar seu ritmo.
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A parente maldosa que presenteia a prima idem com uma roupa maior do que ela veste. Só para fotografar –vide post no Facebook ainda na madruga- o justo momento em que a “inimiga” exibe a peça para todos.
*
E a vovó-Niemeyer repete o chiste de sempre para a neta predileta: “O que mais gosto do Natal, Rose, é que você está sempre de homem novo!” O detalhe é que Rose está à beira das bodas de prata com o mesmo hombre.
E você, estimado(a) leitor(a), qual o bafo natalino predileto da vossa família?

Xico Sá

Modos de macho, modinhas de fêmea & outros chabadabadás

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Português põe à venda ilha em que 75% da área fica debaixo d'água com maré




Um incorporador português anunciou a venda de uma ilha de 540 hectares (5,4 km²) em Aveiro, na costa de Portugal, por € 8 milhões (R$ 4 o metro quadrado).
O anúncio, publicado apenas em jornais brasileiros, oferece ao comprador o pagamento de 60% do valor em bens e imóveis no Brasil.
A intenção do anunciante, Manuel Cascão, é justamente aumentar seus investimentos no Brasil. A ilha de Monte Farinha, que ele pretende vender, tem potencial para um empreendimento turístico, segundo o incorporador.
Cascão afirma que há cinco interessados e três deles já planejam uma visita à ilha.
Rui Silva, que realizou o estudo topográfico da ilha, alerta para o fato de que 75% do território fica alagado quando a maré sobe.
A ilha, diz ele, é plana e possui canais em toda a sua extensão, que permitem a entrada de água, o que torna o solo pantanoso.
"Quem quiser construir lá terá que gastar muito dinheiro para a água ficar fora da ilha", afirma.
Ou seja, alguém interessado em fazer um empreendimento teria de se dedicar à construção de drenos, aterros e muros para impedir a entrada do mar -a maré alcança 3,5 metros na cheia. Já Cascão afirma que os 540 hectares divulgados não incluem os trechos que ficam submersos na maré alta.
Para construir na ilha, é necessária uma autorização especial, a PIN (Projeto de Interesse Nacional).
A advogada portuguesa Joana Abreu afirma que a venda de uma ilha, teoricamente, depende de autorização junto a autoridades do país.
A Camin, incorporadora de Cascão, já havia feito um projeto inicial para um "ecoresort" no local, mas desistiu para dar prioridade a outros projetos, segundo ele.

CLARA ROMAN
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

sinal de vida, por Fernando Henrique Cardoso.

 
 
A condenação clara e indignada, por ministros do Supremo Tribunal Federal, do mau uso da máquina pública revigora a crença na democracia
Tenho dito e escrito que o Brasil construiu o arcabouço da democracia, mas falta dar-lhe conteúdo. A arquitetura é vistosa: independência entre os poderes, eleições regulares, alternância no poder, liberdade de imprensa e assim por diante. Falta, entretanto, o essencial: a alma democrática.
A pedra fundamental da cultura democrática, que é a crença e a efetividade de todos sermos iguais perante a lei, ainda está por se completar. Falta-nos o sentimento igualitário que dá fundamento moral à democracia. Esta não transforma de imediato os mais pobres em menos pobres. Mas deve assegurar a todos oportunidades básicas (educação, saúde, emprego) para que possam se beneficiar de melhores condições de vida. Nada de novo sob o sol, mas convém reafirmar.
Dizendo de outra maneira, há um déficit de cidadania entre nós. Nem as pessoas exigem seus direitos e cumprem suas obrigações, nem as instituições têm força para transformar em ato o que é princípio abstrato.
Ainda recentemente um ex-presidente disse sobre outro ex-presidente, em uma frase infeliz, que diante das contribuições que este teria prestado ao país não deveria estar sujeito às regras que se aplicam aos cidadãos comuns... O que é pior é que esta é a percepção da maioria do povo, nem poderia ser diferente, porque é a prática habitual.
Pois bem, parece que as coisas começam a mudar. Os debates travados no Supremo Tribunal Federal e as decisões tomadas até agora (não prejulgo resultados, nem é preciso para argumentar) indicam uma guinada nessa questão essencial. O veredicto valerá por si, mas valerá muito mais pela força de sua exemplaridade.
Condenem-se ou não os réus, o modo como a argumentação se está desenrolando é mais importante do que tudo. A repulsa aos desvios do bom cumprimento da gestão democrática expressada com veemência por Celso de Mello e com suavidade, mas igual vigor, por Ayres Britto e Cármen Lúcia, são páginas luminosas sobre o alcance do julgamento do que se chamou de “mensalão”.
Leia a íntegra em Sinal de vida

Fernando Henrique Cardoso é ex-presidente da República

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Mamãe Noel



Sabe por que Papai Noel não existe? Porque é homem. Dá para acreditar que um homem vai se preocupar em escolher o presente de cada pessoa da família, ele que nem compra as próprias meias? Que vai carregar nas costas um saco pesadíssimo, ele que reclama até para colocar o lixo no corredor? Que toparia usar vermelho dos pés à cabeça, ele que só abandonou o marrom depois que conheceu o azul-marinho? Que andaria num trenó puxado por renas, sem ar-condicionado, direção hidráulica e air-bag? Que pagaria o mico de descer por uma chaminé para receber em troca o sorriso das criancinhas? Ele não faria isso nem pelo sorriso da Luana Piovani! Mamãe Noel, sim, existe.

Quem é a melhor amiga do Molocoton, quem sabe a diferença entre a Mulan e a Esmeralda, quem conhece o nome de todas as Chiquititas, quem merecia ser sócia-majoritária da Superfestas? Não é o bom velhinho.

Quem coloca guirlandas nas portas, velas perfumadas nos castiçais, arranjos e flores vermelhas pela casa? Quem monta a árvore de Natal, harmonizando bolas, anjos, fitas e luzinhas, e deixando tudo combinando com o sofá e os tapetes? E quem desmonta essa parafernália toda no dia 6 de janeiro?

Papai Noel ainda está de ressaca no Dia de Reis. Quem enche a geladeira de cerveja, coca-cola e champanhe? Quem providencia o peru, o arroz à grega, o sarrabulho, as castanhas, o musse de atum, as lentilhas, os guardanapinhos decorados, os cálices lavadinhos, a toalha bem passada e ainda lembra de deixar algum disco meloso à mão?

Quem lembra de dar uma lembrancinha para o zelador, o porteiro, o carteiro, o entregador de jornal, o cabeleireiro, a diarista? Quem compra o presente do amigo-secreto do escritório do Papai Noel? Deveria ser o próprio, tão magnânimo, mas ele não tem tempo para essas coisas. Anda muito requisitado como garoto-propaganda.

Enquanto Papai Noel distribui beijos e pirulitos, bem acomodado em seu trono no shopping, quem entra em todas as lojas, pesquisa todos os preços, carrega sacolas, confere listas, lembra da sogra, do sogro, dos cunhados, dos irmãos, entra no cheque especial, deixa o carro no sol e chega em casa sofrendo porque comprou os mesmos presentes do ano passado?

Por trás do protagonista desse megaevento chamado Natal existe alguém em quem todos deveriam acreditar mais.
(Dezembro de 1998).


Martha Medeiros (1961) é gaúcha de Porto Alegre, onde reside desde que nasceu. Fez sua carreira profissional na área de Propaganda e Publicidade, tenho trabalhado como redatora e diretora de criação  em vária agências daquela cidade. Em 1993, a literatura fez com que a autora, que nessa ocasião já tinha publicado três livros, deixasse de lado essa carreira e se mudasse para Santiago do Chile, onde ficou por oito meses apenas escrevendo poesia.

terça-feira, 18 de dezembro de 2012

Carta ao Papai Noel



Querido Papai Noel,
Desculpa eu escrever tão devagar é que eu tenho nove anos mas ainda não sei escrever dereito nem meu nome que é muito complicado. Você sabe como é que é aqui agente não temos escola pra todo mundo e fica todo mundo quinem eu. Eu sei que o senhor tem muita carta pra ler e que todo mundo escreve carta pro senhor aí eu resolvi escrever de uma vez pro senhor não ter desculpa depois que tá muito ocupado quinem meu pai todo ano fala. Mais eu queria era fazer essa carta pra falar com o senhor o que eu quero ganhar de Natal.

Se não for muinto defício pro senhor eu queria quatro presentes deferentes. O primeiro é um papagaio. Uma vez falei com meu pai que queria um papagaio e ele me deu um, só que o que ele me deu era de papel igual pipa. Eu quero é um daquele verde que paresse uma maritaca e fala um monte de coisa. O Esquerdinha amigo meu ele faz muinta coisa errada mais é do bem e é bom de bola. Aí ele falou que eu não poço ganhar papagaio porque eu sou gago esqueci de falar isso com o senhor mas ele falou que eu sou gago e que gago não pode ter papagaio sinão o papagaio gageja também. Eu acho bobice do Esquerdinha porque o papagaio custa caro e deve ter estudado em escola particular e menino de escola particular não gageja. E si ele vier com defeito aí eu peço pra trocar. Mais como o senhor é que vai trazer eu confio no senhor. O senhor já ta velhinho mas é de confiança deferente dos político daqui. Intão eu queria ganhar um papagaio e uma chutera nova. Agora a chutera eu queria o pé direito número 34 e o esquerdo numero 30 porque eu quero devidir com o Isquerdinha meu amigo porque ele não tem chutera e ainda joga bem pra caramba. Ele chuta de perna isquerda aí pode ser asim. Um papagaio uma chutera e uma camionete. Eu quiria dar uma caminonete pra minha mãe pra ela poder carrega as roupa que ela lava sem ficar com dor nas costa. Mina mãe tem poblema sério de coluna aí eu queria mesmo é que ela sarace mas eu sei que o sinhor não é médico nem pai de santo e que o problema da minha mãe é sério. Mas a caminhonete eu acho que ajuda ela um pouco. O outro presente eu queria sarar da minha gagera. Eu vi na televisão que tem um médico que sara gago. Eu queria ganhar um médico desse de presente. Não cei se o senhor dá médico de presenti mas acho que pode ser um presente ispessial. Nem precisa imbrulhar porque senão o médico morre asfiquiciado quinem o policial falou do meu irmão quando mataram ele. Eu quero sarar da gagera pra todo mundo parar de rir de mim e o papagaio não ficar gago mas eu acho que não tem nada a ver é coisa do Esquerdinha que ta com inveja eu acho. E também eu poço falar bonito pra minha professora gostar de mim. Ela é nova e é bonita pra caramba e eu queria cazar com ela pra ela poder me ensenar escrever dereito e mas depressa.

Obrigado pela atensão espero que o senhor esteje bem sua mãe es seus parentes. Manda um abraço pros viadinho que carrega sua carroça. Um ispecial praquele que ta gripado. Ele já sarou?

Um abraço.

Maicodiéquisso dos Santos da Silva


Bernardo Rodrigues (1980), é jornalista, músico e professor. Desde os 18 anos escreve contos e crônicas. Especialista em Filosofia e mestre em Literatura, desenvolve pesquisa sobre a adaptação de textos literários para o cinema.

Compras de Natal



A cidade deseja ser diferente, escapar às suas fatalidades. Enche-se de brilhos e cores; sinos que não tocam, balões que não sobem, anjos e santos que não se movem, estrelas que jamais estiveram no céu.

As lojas querem ser diferentes, fugir à realidade do ano inteiro: enfeitam-se com fitas e flores, neve de algodão de vidro, fios de ouro e prata, cetins, luzes, todas as coisas que possam representar beleza e excelência.

Tudo isso para celebrar um Meninozinho envolto em pobres panos, deitado numas palhas, há cerca de dois mil anos, num abrigo de animais, em Belém.

Todos vamos comprar presentes para os amigos e parentes, grandes e pequenos, e gastaremos, nessa dedicação sublime, até o último centavo, o que hoje em dia quer dizer a última nota de cem cruzeiros, pois, na loucura do regozijo unânime, nem um prendedor de roupa na corda pode custar menos do que isso.

Grandes e pequenos, parentes e amigos são todos de gosto bizarro e extremamente suscetíveis. Também eles conhecem todas as lojas e seus preços — e, nestes dias, a arte de comprar se reveste de exigências particularmente difíceis. Não poderemos adquirir a primeira coisa que se ofereça à nossa vista: seria uma vulgaridade. Teremos de descobrir o imprevisto, o incognoscível, o transcendente. Não devemos também oferecer nada de essencialmente necessário ou útil, pois a graça destes presentes parece consistir na sua desnecessidade e inutilidade. Ninguém oferecerá, por exemplo, um quilo (ou mesmo um saco) de arroz ou feijão para a insidiosa fome que se alastra por estes nossos campos de batalha; ninguém ousará comprar uma boa caixa de sabonetes desodorantes para o suor da testa com que — especialmente neste verão — teremos de conquistar o pão de cada dia. Não: presente é presente, isto é, um objeto extremamente raro e caro, que não sirva a bem dizer para coisa alguma.

Por isso é que os lojistas, num louvável esforço de imaginação, organizam suas sugestões para os compradores, valendo-se de recursos que são a própria imagem da ilusão. Numa grande caixa de plástico transparente (que não serve para nada), repleta de fitas de papel celofane (que para nada servem), coloca-se um sabonete em forma de flor (que nem se possa guardar como flor nem usar como sabonete), e cobra-se pelo adorável conjunto o preço de uma cesta de rosas. Todos ficamos extremamente felizes!

São as cestinhas forradas de seda, as caixas transparentes os estojos, os papéis de embrulho com desenhos inesperados, os barbantes, atilhos, fitas, o que na verdade oferecemos aos parentes e amigos. Pagamos por essa graça delicada da ilusão. E logo tudo se esvai, por entre sorrisos e alegrias. Durável — apenas o Meninozinho nas suas palhas, a olhar para este mundo.


Texto extraído do livro "
Quatro Vozes", Editora Record - Rio de Janeiro, 1998, pág. 80.

Cecília Meireles

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Manual de etiqueta para andar de ônibus



Tem coisas que não deveriam precisar ser ditas. Esse post é uma delas. Afinal, para dividir um meio de transporte com alguém não é necessário nada mais que alguma noção de mundo e um pouco de bom senso. Mas parece que esses dois itens andam em falta.
Essa é minha humilde contribuição para fazer as manhãs de quem não tem um carro mais felizes. Vamos lá:
-         Controle sua língua. Incontinência verbal é um negócio muito chato a qualquer hora, mas às 7h30 da manhã é quase inaceitável.
-         Controle o volume do seu fone de ouvido. Ouvir um sussurro da voz da Adele o caminho todo não é legal.
-         Use fone de ouvido. Pior que o sussurro, só a música em volume alto, saindo do celular.
-         Respeite o seu espaço no banco. Nem todos gostam de contato físico com desconhecidos.
-         Não ocupe um assento com as suas bolsas e sacolas. Você pagou por uma passagem, logo, você tem direito a um banco.
-         Não faça cara feia quando alguém pedir para você tirar sua sacola do banco para se sentar. Você deveria ter feito isso antes de a pessoa pedir. Seja gentil, pelo menos.
-         Preserve sua intimidade. Concordo que é um bom momento para colocar a conversa em dia com a amiga, mas faça isso em voz baixa. O ônibus todo não precisa saber que você levou um fora, ou que a sua menstruação está atrasada (eu já ouvi as duas coisas, juro!)
E você? Tem mais alguma dica para os passageiros inconvenientes?
Leia também: Manual do elevador
Natália Spinacé
é repórter de ÉPOCA em São Paulo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

'Trair no motel é ultrapassado', diz detetive, que dá dicas para se encontrar às escondidas!



Angela Bekeredjian, 70, atua há 50 anos no ramo de investigação particular e diz já ter resolvido mais de 6.500 casos. Cônjuges traídos são os que mais procuram seus serviços.
"Principalmente quando tem dinheiro no meio. Eles querem usar a traição para se dar bem na divisão do patrimônio", diz.
Ela mesma começou a carreira na área quando pegou o marido com outra. Era formada em psicologia e resolveu estudar métodos de investigação.
"Decidi que não ia ser feita de boba", conta a detetive particular.
Segundo ela, quem se esforça para não ser pego não vai mais a motel. "Trair no motel é ultrapassado. A pessoa hoje trai dentro do carro, no parque, em flats. Tem gente que aluga apartamento só para isso." (LETÍCIA MORI)
1. Cidade Universitária
"A USP é um lugar enorme, bem aberto, onde dá para ficar à vontade. Você entra com o carro, dá uma volta e para em um lugar não muito movimentado, como atrás do Instituto de Física."
2. Autorama do Ibirapuera
"À noite, o local é ponto de encontro GLS. É possível parar o carro ali e ninguém vai incomodar. Se o casal for hétero, ninguém vai desconfiar do motivo pelo qual foi ao local."
3. Parque Ecológico do Tietê
"É muito grande e pode entrar de carro. Dá para passear lá dentro. Muita gente que vai viajar pelo aeroporto de Guarulhos sai mais cedo de casa para fazer uma parada escondida ali."
4. Cinemark
"Ou qualquer cinema de shopping. Você entra sozinho em uma sessão matinê e encontra o outro lá dentro. Só descobri um caso assim porque entrei no cinema atrás da pessoa."
5. Museu do Ipiranga
"Durante o dia, o museu fica quase vazio. Ninguém vai ver com quem a pessoa está se encontrando. É completamente insuspeito, quem imagina que uma pessoa vá ao museu para ver um amante?"

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Racismo É Burrice



Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, do outro lado do oceano
"O Atlântico é pequeno pra nos separar, porque o sangue é mais forte que a água do mar"
Racismo, preconceito e discriminação em geral;
É uma burrice coletiva sem explicação
Afinal, que justificativa você me dá para um povo que precisa de união
Mas demonstra claramente
Infelizmente
Preconceitos mil
De naturezas diferentes
Mostrando que essa gente
Essa gente do Brasil é muito burra
E não enxerga um palmo à sua frente
Porque se fosse inteligente esse povo já teria agido de forma mais consciente
Eliminando da mente todo o preconceito
E não agindo com a burrice estampada no peito
A "elite" que devia dar um bom exemplo
É a primeira a demonstrar esse tipo de sentimento
Num complexo de superioridade infantil
Ou justificando um sistema de relação servil
E o povão vai como um bundão na onda do racismo e da discriminação
Não tem a união e não vê a solução da questão
Que por incrível que pareça está em nossas mãos
Só precisamos de uma reformulação geral
Uma espécie de lavagem cerebral
Racismo é burrice
Não seja um imbecil
Não seja um ignorante
Não se importe com a origem ou a cor do seu semelhante
O quê que importa se ele é nordestino e você não?
O quê que importa se ele é preto e você é branco
Aliás, branco no Brasil é difícil, porque no Brasil somos todos mestiços
Se você discorda, então olhe para trás
Olhe a nossa história
Os nossos ancestrais
O Brasil colonial não era igual a Portugal
A raiz do meu país era multirracial
Tinha índio, branco, amarelo, preto
Nascemos da mistura, então por que o preconceito?
Barrigas cresceram
O tempo passou
Nasceram os brasileiros, cada um com a sua cor
Uns com a pele clara, outros mais escura
Mas todos viemos da mesma mistura
Então presta atenção nessa sua babaquice
Pois como eu já disse racismo é burrice
Dê a ignorância um ponto final:
Faça uma lavagem cerebral
Racismo é burrice
Negro e nordestino constróem seu chão
Trabalhador da construção civil conhecido como peão
No Brasil, o mesmo negro que constrói o seu apartamento ou o que lava o chão de uma delegacia
É revistado e humilhado por um guarda nojento
Que ainda recebe o salário e o pão de cada dia graças ao negro, ao nordestino e a todos nós
Pagamos homens que pensam que ser humilhado não dói
O preconceito é uma coisa sem sentido
Tire a burrice do peito e me dê ouvidos
Me responda se você discriminaria
O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que preto é ladrão
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial
Quero ver essa música você aprender e fazer
A lavagem cerebral
Racismo é burrice
O racismo é burrice mas o mais burro não é o racista
É o que pensa que o racismo não existe
O pior cego é o que não quer ver
E o racismo está dentro de você
Porque o racista na verdade é um tremendo babaca
Que assimila os preconceitos porque tem cabeça fraca
E desde sempre não pára pra pensar
Nos conceitos que a sociedade insiste em lhe ensinar
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
Nenhum tipo de racismo - eu digo nenhum tipo de racismo - se justifica
Ninguém explica
Precisamos da lavagem cerebral pra acabar com esse lixo que é uma herança cultural
Todo mundo que é racista não sabe a razão
Então eu digo meu irmão
Seja do povão ou da "elite"
Não participe
Pois como eu já disse racismo é burrice
Como eu já disse racismo é burrice
Racismo é burrice
E se você é mais um burro, não me leve a mal
É hora de fazer uma lavagem cerebral
Mas isso é compromisso seu
Eu nem vou me meter
Quem vai lavar a sua mente não sou eu
É você.

Gabriel O Pensador

sábado, 1 de dezembro de 2012

sobre o post abaixo!

de autoria de chico sá colunista da folha!

Cabelo ‘Joãozinho’ e a reviravolta na vida



Nada como um pescocinho à vista, bem ao estilo da atriz Jean Seberg (foto), aquela moça do filme “Acossado”(1959), clássico de JL Godard.
Aquele cabelo conhecido vulgarmente como “Joãozinho”, que sempre intrigou nós homens pelo que tinha e tem de dúbio.
Em alguns rostos, cai perfeito, ressaltando o que tem de mais belo nos traços, lente de aumento no brilho dos olhos… Mas não é para qualquer rosto tal corte ousado, todo cuidado é pouco nessa hora.
Talvez seja mais para as mulheres de gestos pequenos e delicados do que para as mulheres mais atrevidas e selvagens, que estão mais para tranças, madeixas e mil segredos debaixo dos caracóis. Mas há controvérsias.
É corte para aquela hora de reviradas na vida, ritual de passagem, transição amorosa, mudanças bruscas, as calmarias que chegam depois das tempestades.
E como é prático uma mulher com cabelos curtíssimos.
Ao acordar, por exemplo, ao lado de um novo possível amor, não viverás o drama comum às fêmeas de longas madeixas -elas já acordam, quando ainda não possuem intimidade, em sobressaltos, preocupadas com o desalinho feito pelos travesseiros e pelos sonhos novos.
Sonhos, como bem sabemos, são filmes dirigidos por cineastas mortos, maneira de Deus ocupá-los no purgatório.
Acordam e correm logo para a conferência no espelho! Mal sabem como são lindas, de todos os jeitos, as mulheres quando acordam.
E cabelo curto, quanto mais rebelde melhor, quanto menos penteado ou arrumado, melhor.
Segundo o meu instituto Databotequim, os amigos avaliam que uma mulher com cabelo mais curtinho e despojado representa um clima mais relax, com menos ansiedade, em caso de futuro relacionamento.
Será?
Não é nada científico, mas a minha enorme mesa de bar, entre os bons amigos, chegou à esta boa tese.
Nada como um pescocinho à mostra… Lembram da Audrey Hepburn? Meu Deus, talvez tenha sido o melhor cabelo curto da história(do cinema!)
Bem curtinho ou channel, que assim se denomina por causa de outra deusa de madeixas econômicas, a Coco Channel, uma mulher sem medo de fazer com que as outras mulheres adotassem um estilo aparentemente, só aparentemente, masculino.
Ora, foi ela que inventou o tailleur, ainda nos anos 1940. Isso é que é vanguarda,  poder.
Mulher que é mulher, não tem medo das mãos-de-tesouras e de nem um Eduardo que corta grama lá fora.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Ele não quer namorar?






 O mundo parece estar cheio de homens que não querem namorar. Eles me contam isso, as mulheres que saem com eles dizem isso. Eu não entendo. Que o sujeito hesite em morar junto, casar, ter filhos, comprar apartamento pelo SFH – tudo isso me parece compreensível. Esses são grandes passos e nem todos estão prontos para o compromisso. Mas namorar, tanto quanto eu sei, não dói. Andar de mãos dadas, viajar no feriado, ir ao cinema no sábado à tarde são atos no campo do prazer, não do dever. Não deveriam constituir um problema. No entanto...

Pergunte às mulheres e ouça o que elas têm a dizer sobre o assunto. Essencialmente, vão contar que os caras só querem o bilhete de ida. Estão a fim de uma viagem única. Se gostar do sexo, do agarro, do beijo, o sujeito volta; ou não. Tudo é negociado um dia de cada vez. Não há laços, nem fins de semana assegurados, muito menos exclusividade. Esta situação, que antes seria considerada transitória, agora pode durar indefinidamente. Do ponto de vista de algumas mulheres com quem eu tenho conversado, os relacionamentos ficaram parecidos com empregos precários: não há contrato, não há garantias e aviso prévio não existe. Pode acabar a qualquer instante, já que oficialmente nunca começou. É o amor terceirizado. 
Da parte dos caras, a queixa é outra. “Eu não me envolvo”, eles reclamam. Sai moça, entra moça, e fica o mesmo vazio. A mulher que parecia espetacular perde o brilho em poucos dias. A empolgação inicial não se sustenta. Tudo se resume a um desejo passageiro, que pula de uma dona para outra. Como nada ganha relevo, tudo é igual a tudo. Então se trata, simplesmente, de administrar uma agenda com vários nomes. Isso inclui Facebook, celular e muitas horas vazias e solidão. Um dia a Fulana, outro dia a Sicrana, amanhã, quem sabe, alguém capaz de fazer diferença. Em cada uma delas, novidade e prazer. Nos intervalos entre elas, ansiedade e tédio. Entre uma e outra, angústia. 
Como eu já disse, não entendo muito bem essa dificuldade. Acho bom demais namorar. Melhor coisa do mundo, na verdade. Os primeiros meses de namoro são melhores que banho de cachoeira, melhor que pegar jacaré no fim de uma tarde de verão, melhor que ficar bebum em companhia de amigos queridos. No namoro a gente descobre (ou redescobre) que pode ser feliz, que o nosso romantismo não morreu, que existe dentro de nós um sujeito capaz de gestos arrebatados e pensamentos delicados, um cara que se lembra de comprar um presente inesperado e de mandar um poema no meio da tarde, pelo celular. Quem não gosta de sentir-se assim levanta a mão - e corre assim mesmo, de mão erguida, para o analista mais próximo!  
Então, não acho que os homens tenham problemas com isso. Seria desumano. Minha impressão é que há dois tipos de situações, a simples e a complexa. A simples é realmente simples: ele não quer namorar você, mas não significa que não queira namorar em geral. As mulheres às vezes confundem. Criam fantasias sobre as dificuldades afetivas de um cara que apenas não está a fim delas, mas cai de quatro dias depois pela próxima mulher que entra na vida dele. Isso acontece o tempo todo. É do jogo. Levanta e vai à luta, menina. 
Mas há outro tipo homem para quem namorar é realmente um problema. Entre ele e o oásis de ternura e erotismo chamado namoro caminha a besta vigilante da ansiedade. A fera peluda de olhos flamejantes impede o sujeito de se concentrar. Faz com que ele se disperse numa multidão de desejos conflitantes. Diante de tantas garotas, diante de tamanha possibilidade de prazer, o cara não consegue fixar sua atenção em ninguém. Quer tudo, deseja todas, e, por mais que obtenha, continua insatisfeito - porque há sempre mais ao redor. Sempre existe uma mulher mais bonita, mais sexy, mais interessante na próxima esquina. Se a bússola do coração está quebrada, seu dono nunca vai achar o Norte. É uma corrida sem linha de chegada. Mesmo sozinho e miserável, o sujeito seguirá esperando a resposta definitiva do universo às suas inatingíveis aspirações. Pode chamar isso de burrice, mas eu acho que é mesmo ansiedade e desassossego. Uma forma destrutiva de romantismo. 
As mulheres se julgam as criaturas mais românticas do planeta, mas talvez não sejam. Olhe em volta: diante de um cara apaixonado, bacana, determinado a ficar com elas, boa parte das mulheres sossega. O cara pode não ser perfeito, mas se torna “o cara”. Há nisso um pragmatismo que muitos homens perderam. Enquanto as mulheres escolhem de maneira apaixonada, mas com os pés no chão, eles parecem viver nas nuvens, sonhando com a mulher perfeita. Como ela não aparece, o cara vai testando uma atrás da outra, como se levasse um sapatinho de cristal no bolso. O padrão de exigência é elevado, opressivo talvez. Muitas vezes baseado apenas em aparência. Tem homem adulto se apaixonando pela mulher da capa de revista, por atriz de filme pornô, por modelo americana. Homens de 30 anos, eu digo. Homens de 40. Não há limite de idade para o desvario. Uma legião de barbados de todas as classes e graus de instrução vive à mercê de fantasias que bloqueiam as construções afetivas verdadeira. Como o sujeito vai namorar se a mulher da vida dele pode aparecer do nada na semana que vem? Se você está apaixonada por um cara assim, talvez seja melhor dar um tempo e esperar ele pousar na Terra. Pode demorar uns aninhos.

O Alain de Botton, que virou meu guru nesses assuntos, lembra que ali pelos 40 anos o sujeito já começa a perceber que vai morrer, e isso acrescenta a tudo que ele faz uma tinta de urgência. Sobretudo no sexo. Antes de empacotar, antes de ficar broxa e caído, é preciso aproveitar a juventude – dos outros. Esse sentimento é forte. Se o jovem quer todas as mulheres do mundo porque está nadando em desejo e inexperiência, o mais velho sente o mesmo porque acha que está saindo de cena e tem fome de vida. O período de maturidade masculino, essa quimera científica, fica cada vez mais curto, espremido entre duas áreas de insensatez em expansão. 
Claro, não há dois homens iguais. O roteiro que eu descrevo não vale para todos. Talvez valha só para uma minoria ruidosa. A maioria – quem tem essa estatística? – deve estar feliz agora mesmo, encomendando na internet o presente de Natal para a namorada. Ou planejando uma viagem romântica de Ano Novo com ela. Não sei. Olho pro mar e vejo apenas quem está se afogando – e são muitos. Se eu pudesse dizer alguma coisa para eles, diria “pare, respire, comece alguma coisa”. Escolha alguém que toque os seus sentimentos e se deixe ficar ao lado dela. As mulheres, quando querem, quando nós deixamos, têm um jeito gostoso de nos fazer felizes. Pode não ser para sempre, mas quem se importa? A vida é um dia de cada vez – e eles são melhores quando a gente está namorando.  
(Ivan Martins escreve às quartas-feiras)

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Campanha pela volta do cafuné




Além da volta da carta de amor, outra campanha permanente deste blog, repetida ad infinitum, é pela volta do cafuné.
Porque dos dengos femininos, ou historicamente femininos, o que mais nos faz falta, é o cafuné.
Nos dias avexados de hoje, não há mais tempo nem devoção para os delicados estalinhos no cocoruto do mancebo.
Pela volta imediata do mais nobre dos gestos de carinho e delicadeza. Nem que seja pago, como o sexo das belas raparigas dos lupanares, mas que devolvam vossas mãos às nossas cabeças.
Pela criação imediata da Casa de Cafunés Gilberto Freyre, como me propõe, em sociedade, a amiga Maria Eduarda Risoflora Belém. Ótima idéia a ser espalhada por todo o país. Milhares de casas, guichês, varandas, redes debaixo de coqueiros, sofás na rua… Tudo a serviço dos breves e deliciosos estalinhos dos dedos das moças.
Gilberto Freyre era um entusiasta do cafuné e a ele dedicou páginas e páginas. GF, aliás, escrevia como quem dá cafuné, prosa mole, ritmo dos mais sensoriais. Como também assenta palavras outro Freire, sem o estilingue do Y, o Marcelino de “Contos Negreiros”.
Que machos & fêmeas sejam treinados, em um programa social de emergência, para reaprenderem o hábito do cafuné.
Melhor: que seja feita uma campanha de saúde pública. Ah, quantas doenças de fundo nervoso seriam evitadas, quantos barracos de casais seriam esquecidos, quantos juízos agoniados seriam libertos!
Sem se falar no erotismo que desperta o dengo, como anotou outro sociólogo, o francês Roger Bastide, no seu belo ensaio “Psicanálise do Cafuné”. Pura libido.
Delícia de se sentir; beleza de se ver. O cafuné de uma mulher em outra, ave palavra!, puro cinema, para além muito além do lesbian chic.
Como era comum, na leseira de fim de tarde, nos quintais e nas calçadas.
Ao luar, então, sertões e agrestes adentro, era puro filme de Kurosawa. O resto era silêncio.
Ai que preguiça boa danada, ai que arrepio no cangote, quero de volta meus cafunés.
Viver de brisa, como na receita de Bandeira, numa rede na rua da Aurora, sob a graça dos dedos de uma morena jambo ou de uma morena caldo-de-feijão.
Como pode uma criatura, como esses rapazes de hoje, passarem pela vida sem provar do êxtase de um cafuné?
Pela obrigatoriedade do cafuné nos recreios escolares, nas missas, nos cultos, nos intervalos dos jogos de qualquer esporte.
Não é possível que se condene toda uma geração a viver sem cafuné. Eis uma questão de segurança nacional. Tão importante como aprender a assinar o próprio nome. O cafuné, aliás, é a assinatura em linda e barroca caligrafia de mulher.
  
Xico Sá é escritor, jornalista e colunista da Folha

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Música para Ouvir e Pensar

 
 
Até Quando Esperar - Plebe Rude
Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição

Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração

Até quando esperar

E cadê a esmola que nós damos
Sem perceber que aquele abençoado
Poderia ter sido você
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração

Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus
Até quando esperar a plebe ajoelhar
Esperando a ajuda de Deus

Posso
Vigiar teu carro
Te pedir trocados
Engraxar seus sapatos
Posso
Vigiar teu carro
Te pedir trocados
Engraxar seus sapatos

Sei
Não é nossa culpa
Nascemos já com uma bênção
Mas isso não é desculpa
Pela má distribuição
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Com tanta riqueza por aí, onde é que está
Cadê sua fração
Até quando esperar
A plebe ajoelhar
Até quando esperar
A plebe ajoelhar
Esperando a ajuda do divino Deus

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

amor e amizade!





As vezes tão próximos que chegam a nos conhecer melhor do que nós mesmos. Às vezes tão distantes que só virtualmente conseguimos manter contato. O fato é que viver sem os nossos amigos não é viver.

Sem amigos, quem nos alegraria nos momentos difíceis? Quem marcaria um encontro conosco, não iria e depois riríamos lembrando da situação? Quem é que nos faria esquecer dos pesares da vida e nos faria levá-la de uma maneira mais suave?

O fato é que conhecer pessoas, estabelecer boas e saudáveis relações é necessário a todos nós. Sejamos portanto desprendidos, felizes em plenitude, livres, façamos amigos.

O amor e a amizade são os principais sentimentos que dão
sentido e cor às nossas vidas. Produtos directos da natureza e
do instinto de sobrevivência, são sentimentos simultaneamente
simples e complexos, geradores dos melhores e piores
momentos da vida de cada um, biógrafos de emoção que fazem
de cada existência uma única, independentemente da monotonia
do quotidiano, num registo de interacções humanas onde o
ideal se sobrepõe ao real, numa eterna repetição do ciclo de
expectativas que, suavizadas à medida que a idade avança,
mantêm a sua pureza no coração de cada um por via de todos
os momentos únicos vividos e respectivas recordações acumuladas.
É comum dizer-se que o amor e a amizade não se explicam.
Tal é evidente pela nossa experiência pessoal e pelas
múltiplas e complexas motivações aparentes que observamos
nos relacionamentos entre outras pessoas. Por isso, desde a
antiguidade que os mais diversos pensadores registam os mais
variados tipos de considerações sobre estes dois sentimentos,
realçando os seus aspectos positivos e negativos, a complexidade
e muitas vezes subjectividade na interpretação do que é
um verdadeiro amor e uma verdadeira amizade, e todos os
tipos de influências que estes podem sofrer a partir de outros
aspectos da vida, tais como a inveja, a riqueza, o sucesso, o
fracasso, o egoísmo, etc.
Na realidade os conceitos de amor e amizade variam no
íntimo de cada um, e raras vezes são comuns as expectativas
mútuas numa relação, o que, embora não condicione forçosamente
o sucesso da mesma, é necessário que cada um tire a
10
Amor e Amizade – Citações e Pensamentos
satisfação suficiente que lhe permita, no seu entender, preservar
e alimentar essa relação. É precisamente do
dar recíproco
que vive cada relação, do
dar e da recepção desse dar. Pois
receber algo que não vai ao encontro do que se pretende, seja
por defeito ou excesso, seja pelo desencontro nas expectativas
de quem recebe, produz frustração nas duas partes e é o principal
ponto de ruptura em qualquer relação saudável; saudável no
sentido de que não se tratem de relações de interesse, de
dependência, ou de hábitos institucionalizados, que, por uma
rotina de comportamentos e costumes, se sobrepõem aos sentimentos
originais que há muito se ofuscaram.
A palavra amor é, com frequência, abusivamente usada e
banalizada, sendo recorrente ouvi-la para nomear outros sentimentos
que não são amor mas que por via da necessidade de
afirmação e realização de cada um, surge para engrandecer
algo que não merece esse nome, à falta de melhor experiência
de verdadeiro amor. No amor é preciso que duas pessoas sejam
uma, e, embora tal possa acontecer no início de cada relação,
que se caracteriza por irmos ao encontro do outro desvirtuando-
nos a nós próprios, se de facto as duas pessoas não
forem feitas uma para a outra a pouco e pouco surge o choque
de personalidades constante e o remar para sítios diferentes,
criando a distância e o antagonismo na relação. Embora muitas
vezes haja a tentação de manter um comportamento diferente
daquilo que somos, quanto mais usufruímos do que somos e
temos, sem reclamar pelo que não nos é dado, mais inteiros
estamos e mais verdadeiro pode ser o amor que, através de nós,
se espalha.
Vive melhor quem ama mais, e daí a fácil e rápida ilusão
de quem encontra alguém que lhe parece ser a sua possível
futura cara-metade, numa sofreguidão à qual nem escapa o
maior solitário quando incendiado pela chama do amor. A verdade
é que sem amor não temos nada, pois este é a origem de
todas as emoções positivas, sendo um estado de alma que evolui
até à morte, portanto de uma importância tal que muitas
vezes se acaba por amar mais o amor do que se tem amor espe
Introdução
11
cífico por esta ou aquela pessoa, e, por toda esta complexidade
misteriosa, às vezes chamamos de amor ao que não passa de
vaidade.
Assim se vê que muitas são as motivações e mutações do
amor, que, de sentimento essencial, tanto pode transformar a
nossa vida num paraíso como num inferno, embora o purgatório
de relações medíocres ou moribundas seja a realidade da
maioria das relações amorosas, agravadas pelo desgaste natural
do quotidiano, antítese de um ideal que se pretende sempre
renovado.
A amizade supõe três condições essenciais: a benevolência,
a beneficência e a confidência. As duas primeiras são
características que todos deveriam ter com todos, sinónimos de
uma verdadeira humanidade, mas é a confidência a principal
característica da amizade: aqueles poucos em quem confiamos
e a quem nos abrimos, e que reciprocamente se abrem a nós e
confiam em nós, com a certeza da compreensão mútua e de
discrição nos segredos íntimos de cada um. A amizade é
mesmo o relacionamento mais forte, quando comparado com a
arbitrariedade da família e da precariedade do amor. A amizade,
como um amor moral, é fruto da simples admiração
desinteressada por outra pessoa, um amor que não depende de
nenhuma idealização nem de nenhum desejo, um amor realista
e altruísta.
No entanto há muitos falsos tipos de amizade, motivados
pelos mais variados interesses de partilha de convívio com o
outro, que desvirtuam o verdadeiro sentido da palavra amizade,
facilmente comprovados quando uma relação de amizade passa
por situações de adversidade, a melhor prova da qualidade de
uma relação.
É essencial ter-se amigos. Embora no limite e por via de
eventuais desilusões cada um prove ser o melhor amigo de si
próprio, só é possível atingir o reconhecimento e realização
completos de nós próprios através dos outros, para o qual são
necessários os verdadeiros amigos.
12
Amor e Amizade – Citações e Pensamentos
O amor e a amizade têm muitas características comuns,
tanto que grande parte das afirmações que são feitas acerca do
amor também é válida no campo da amizade e vice-versa. Por
isso a pertinência de uma compilação de citações e pensamentos
de todos os tempos sobre estes dois temas num único livro,
fruto de uma selecção realizada ao longo de vários anos,
demonstrando que há sempre algo mais a acrescentar nas interpretações
do amor e da amizade, temas que nunca se esgotam,
mas que, por via de tantas experiências de vida dos mais variados
autores e pensadores, merecem uma análise que nos ajude
a nós próprios a encontrar, desmistificar ou potenciar o amor e
a amizade nas nossas vidas.

quarta-feira, 21 de novembro de 2012




Praia da Fazendinha
A praia fica localizada no Rio Amazonas, a 13 km da capital. Tem areias claras e águas por vezes barrentas e com ondas. É procurada para a prática esportes como jet-ski, lancha e caiaque. A orla da praia tem uma infra-estrutura com quiosques.
Saiba mais sobre a cidade de Macapá.